quarta-feira, 6 de março de 2013

selvagem

o cão abaixa as orelhas, não entende o que nem por que, mas entende o que é feio e o que é bonito para o comportamento canino doméstico. vai por tentativa. no acerto tudo é festa, ele nem liga de depender do critério humano para isso. no erro ele se redime, a reprovação corta mais que faca, o sangue que brota é invisível e certamente não há alarde nenhum para algo que não se enxerga.

estou nas suas mãos. não sei o que fazer.

três por cento de singularidade. foi o que o cão encontrou vasculhando seus pensamentos, arquivos, pastas, valores e feridas. oras, parece pouco, mas se plantar e regar, vinga. é uma quantidade forte e compacta, do jeito que tem que ser.

vem me bater. porque cicatrizes engrossam minha pele, e eu preciso disso. vem me agradar. porque eu preciso treinar como dizer não. gostoso é ver a musculatura desenvolvendo. um dia, dois dias de sacrifício. dez, noventa. se fosse fácil todos seriam fortes. mas sabe de uma coisa? o processo é penoso e com o passar do tempo passa a ser agradável. e depois passa a ser necessário.

estou sobre as minhas patas. ninguém me segura.

há quem tenha dó dos que andam sozinhos. eles nem imaginam. eu sou selvagem. eu não era, hoje sou. os três por cento multiplicaram-se como uma praga irremediável e agora beiram os setenta. ainda bem, porque tenho mais trinta para crescer e anseio por isso.

tudo tem um preço. os lugares por onde ando são mais frios. as minhas melhores conversas são com cadernos. compaixão e empatia são coisas estranhas, ainda dói ver dor ao sair andando. mas estou seguindo a minha natureza e é isso o que vou continuar fazendo.

ouvindo: this is where i belong - spirit soundtrack

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