sexta-feira, 28 de novembro de 2014

alegria

ameno. suave. constante. tempero. nenhum. mas que diabos, que desgraça de água parada, oh, veja bem, ainda que temos água. não, não é legal, é chato, feio, bobo.

enfado. enfado, enfado. grande o bastante pra saber que existe vida lá fora. inquietude jovial, exigência senil. alegria efêmera é só um suspiro. suspiro não enche barriga de gente grande. gente grande de verdade, digo.

trabalho. lindo. trabalho. árduo. tempo, tempo, tempo. tempo. ah sim, agora sim, vejo valor agregando, vejo paixão, vejo alegria real. se fosse barato não teria graça.

inquietude, persistência, resultado.

ouvindo: cicero

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

buscam

eles não entendem. eles buscam coisas superficiais e se alegram com os resultados, mas é porque eles não entendem. a profundeza é escura, fria, macabra e risonha.

existe beleza nisso, não sei até quando.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

serenidade

estou indo para 31. a casa dos trinta está bem melhor que a casa dos vinte.

subi aos poucos uma montanha de ar rarefeito, desenvolvi toda aquela coisa cardio sem olhar pra baixo. cheguei num patamar agradável com a sorte de pegar o ar limpo, sem nuvens, sem neblina, sem nada. a paisagem reflete uma serenidade que não existia lá embaixo. o vento ruidoso é música, a perspectiva panorâmica é confortável.

no silêncio eu estou comigo, no silêncio eu paro, penso, sinto, paz.

a força nuclear não é potente só nos átomos. é assim com a gente também. o importante é olhar pra dentro.

ouvindo: album islands - ludovico einaudi

sábado, 23 de agosto de 2014

gosto

você tinha gosto de lasanha, pavê com chocolate granulado, café espresso sem açúcar.

eu te punha no prato e toda contente sentia o aconchego da fartura.

repetia, comia com os olhos, ia alegre e vinha saltitando.

era legal sim, era ultra legal, muito supimpa.

é legal hoje esse efeito de café revestindo o estômago, quente e amargo. quieto. amargo.

preto, simples, quieto, amargo.

quieto é confortável. gosto disso.


ouvindo: album ok computer - radiohead

demora

eu lembro exatamente o que pensei antes de pular do bungue jump dez anos atrás. as pessoas lá embaixo tinham o tamanho de um playmobil, a montanha era mais verde e o céu mais azul do que nos teletubbies. se eu demorar muito acabo não pulando, foda-seeeee.

tinha uma escoteira que demorou muito. pensou muito. olhou muito pra baixo. claro, não pulou. não era uma questão de medo maior que a média, falta de coragem maior que a média, luta ou manifestação pelo direito de não pular. o único problema foi que ela demorou muito, mesmo, só isso.

as coisas são complicadas pra quem demora.

quando se demora, a cabeça desenvolve inúmeras coisas que não existem. infla as expectativas, o que gera ansiedade. a ansiedade trava a pessoa, e lá vamos nós: ainda mais ansiedade. quando andamos pra frente nos deparamos com problemas reais e as soluções têm que ser reais, isso é uma dinâmica boa. quando demoramos, parados, os problemas são supostos, a solução é suposta. vira uma coisa de louco.

demorar não é bom. planejamento é bom. são coisas diferentes e não podemos confundir uma coisa com a outra.

estou bastante irritada porém é altamente deselegante empurrar pessoas do bungue jump. excede os limites interpessoais.

não é à toa que a sociedade está gerando um grupo de pessoas individualistas e apressadas. simplesmente não há tempo a perder esperando os entes queridos olharem e olharem pela gaiola do bungue jump.


ouvindo: album ghost stories - coldplay

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

jardim

todo mundo precisa de um jardim secreto para se recolher.

lá você faria outras coisas, teria outros trejeitos. usaria outras roupas, comeria outros pratos. ouviria músicas acolhedoras e leria outros livros. passaria horas lendo livros e pensando sobre a vida no jardim, o obscuro risonho e doce. lá o seu corpo é o mesmo, suas feições mudam, sua postura empertiga, suas frases destoam, seu cheiro se transforma.

e no meio daquelas plantas você é outra pessoa, você muda tanto, quase chega a ser o que há de mais puro em você.

eu gosto daquela moça do jardim.

eu também gosto.

por que?

porque ela gosta de mim.


ouvindo: cold - aqualung

sexta-feira, 4 de abril de 2014

irônico

cuidei de tudo para que você tivesse tempo para ler, disse o poder da atração. agradeço, claro, eu reconheço todo o seu esforço.

quem tem orgulho de conseguir passar quinze anos enclausurado num quadrado de alvenaria de seis metros quadrados mantendo a pacificidade de um monge? que nem no oldboy. oras, me dê seis bons livros por mês (e um caderno grande) que eu consigo essa proeza. com o orgulho de possuir esse estado de espírito, inclusive.

de tão irônico chega a ser bonito. de bonito, chega a ser emocionante. de emocionante, dá vontade de continuar.

o valor de algo é o preço que se paga por isso. algumas pessoas pagam coisas importantes com a saúde, a sanidade e o tempo (coisas que eu aprecio muito). por aí nota-se o valor dessa tal coisa importante. não julgo. nessa vida não devemos fazer o que é certo, devemos fazer o que nos provoca paixão insuperável.

há quem queria muito sentir o cheiro das flores e ficou cego para apurar o olfato. é irônico, bonito e cômico.

eu não sei o que você quer. talvez nem você saiba. mas nesse momento, está no caminho da conquista.

cuidado com o que você pede. porque você consegue. o como que é a questão.

ouvindo: place de la republique - coeur de pirate

quarta-feira, 2 de abril de 2014

minha mesa

quem me dera passar dias lendo, estudando, grifando, anotando. o peso da preocupação parece um tijolo arremessado na nuca e a cara batendo na parede. o desânimo dessa sensação parece uma jaqueta de nylon encharcada e guardada no freezer industrial.

eu queria estudar. não essa coisa de assistir aula. sentar na minha mesa e estudar.

assim como a mãe novata quer deitar e dormir, assim como o gordo quer comer um cookie com fartas gotas de chocolate gigantes.

torço para que não aconteçam pragas da fatalidade, mas penso que se eu fosse pra uma penitenciária levaria uns cinco livros densos que tenho aqui. fico imaginando que teria um maravilhoso tempo ocioso e o preencheria alegremente. a realidade não deve ser assim, claro. deve ser o próprio inferno e as mulheres devem ter vontade de sair de lá o mais rápido possível para viver a vida.

outra fatalidade seria adoecer. viver às custas das refeições do hospital pagas pelo convênio do plano de saúde. já pensou que legal ler sob aquelas ótimas luzes do quarto hospitalar? tudo limpinho, clarinho, lençóis grossos e resistentes, janelas boas... ah eu sei. mas que babaquice, não? ficar doente seria um descaso com a família.

pensei em juntar dinheiro e passar um tempo sabático dentro da minha própria concha. isso seria uma irresponsabilidade com os pacientes.

é um grande enigma. mas vou ser realista e ver o que dá pra fazer. talvez eu me programe melhor e tente juntar toda a concentração do mundo para fazer valer meia hora a uma hora por dia. nem todos os dias... mas já é alguma coisa.

deve haver um jeito bom.

ouvindo: headrush - hannah trigwell

terça-feira, 11 de março de 2014

trinta

ouse ser a pessoa dos seus sonhos. a vida é meio curta, não quero esperar passar por uma experiência ruim para refletir sobre os caminhos que venho trilhando. não quero ter uma doença para questionar a minha saúde. e também não quero passar o sufoco de um perigo para dar valor à minha vida.

trinta anos é muita coisa e ao mesmo tempo é coisa pouca.

é tempo de escolher com alguma precisão o rumo e então andar. andar, andar... sem gastar tempo e energia com questionamentos. ah, eu gasto tanto com reflexões, gaguejo nas ações...

há material suficiente para dar um formato à vida. os estudos foram concluídos, o dinheiro está entrando, o corpo ainda obedece bem os comandos, não há ninguém para eu cuidar. posso ir pro norte, posso ir pro sul. para onde virarei o barco?

eu sei quem eu sou. sei quem eu quero ser. e entre esses dois pontos há uma reta meio torta, mas ainda sim é a menor distância entre eles. e é por lá que vou andar.

ouvindo: album 'luce dei miei occhi' - ludovico einaudi