quarta-feira, 13 de abril de 2016

Nojo

Você tem sorte de às vezes eu ter vontade de sair com você. Quando não tem mais ninguém pra chamar. Quando eu sei que você vai aceitar qualquer programa a qualquer hora e ainda por cima vai querer pagar e me buscar. Eu tenho um pouco de nojo de encostar em você e também do seu cheiro, pra falar a verdade. Se alguém falar a palavra sexo quando você estiver por perto talvez eu vomite. Hahaha não, não vamos falar de amor. Isso não existe mais, você quer que eu desenhe pra conseguir explicar? Quer que eu use gráficos? Talvez eu tenha te amado, mas eu era sem noção. Hoje eu tento te respeitar por dó. Sim, dó. Você é digna de pena, gorda inútil. Bom, não tão inútil, você tem um trabalho legal. Mas já perdi muito tempo precioso aqui falando. Você não vale meu tempo. Sai.

sábado, 9 de abril de 2016

sozinha

a melhor parte de estar sozinha é se sentir sozinha. você precisa estar sozinha para escrever? eu preciso escrever para estar sozinha. e isso é lindo.

a apreciação vem aos poucos. depois de um tempo tendo que conviver comigo forçosamente consigo sentir o gosto e o cheiro das coisas novamente.

lembra da época que eu dirigia ao léu de madrugada ouvindo u2? era bom hein. coldplay. ludovico. minhas melhores lembranças solitárias incluem vento frio e músicas que ninguém mais ouviria por mais de meia hora. livros que não interessariam quase ninguém. piadas que só eu entendo.

lugares ficam mais interessantes quando descritos. pessoas ficam mais instigantes quando são personagens. o mundo fica com um cheiro bom quando é criado. lembranças geram uma cor legal quando misturadas.

mundo novo. de novo e de novo. fora e dentro.

ouvindo: the scientist - coldplay

sábado, 26 de março de 2016

quieto

triste é falar com quem já não está aqui, é rir com quem já não vê mais graça, é encostar em quem já não sente nada, é estar do lado de quem está muito longe.

humilhante é lutar quando ele já arrumou as malas, é tirar a roupa pra quem já calçou os sapatos, é oferecer algo a quem fechou a porta.

é frio, é azedo, é amargo, é quieto.

quieto é andar sozinha de novo, é saber que errei de novo, é saber que eu não sirvo de novo, é ouvir que eu sou legal de novo.

estou em silêncio. estou amarga. estou sem esperanças. estou sem vontade de continuar fazendo tudo dar errado.

não quero mais sair daqui, não quero um lugar maior, não quero prejudicar nenhuma criança, não quero entristecer nenhum cachorro.

não aguento mais essa vida descartável, não aguento mais não servir mais, não aguento mais ser jogada no lixo.

faz silêncio, sinto dor.

mereço tudo isso, é mais de uma década, é cada vez mais amargo, é cada vez mais frio, é cada vez mais quieto.

preciso trabalhar, preciso comprar livros pq senão dói.

por favor, não traga mais ninguém. eu não aguento mais.

não traga mais ninguém, não leve mais ninguém, me deixe em paz.

segunda-feira, 14 de março de 2016

barcos

"senhor, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas."

estamos questionando tudo, a sociedade, os relacionamentos, o trabalho, a família, os filhos, animais, a vida. vamos desapegar de tudo, vamos fazer o que é importante, que é ir atrás de nossos sonhos. cada um que viva seu próprio sonho em seu próprio barco. vamos deixar os outros viverem seus próprios sonhos em seus próprios barcos. vamos comprar barcos práticos, que caibam nossas coisinhas, vamos trocar de barco a cada cinco anos. hoje em dia não precisamos de tanto pra viver, tudo o que é pesado incomoda o homem moderno, coitado. ter um barco grande corre o risco de ter que levar família, gasta mais combustível e no geral gasta mais tempo e dinheiro. e eu não tenho tempo pra isso.

eu não posso mudar as coisas, não posso educar (quer dizer, mandar) nos meus filhos. hoje em dia cada um faz o que quer. vivemos em um mundo livre, livre demais. cheio de barcos desgovernados irresponsáveis buscando felicidade. mas o que importa são os sonhos.

quinta-feira, 10 de março de 2016

basal

um dia de cada vez. pessoas incomodam. elas tentam vender a ideia de que precisamos de alegria, que alegria cura e resolve. se eu quisesse comprar algo, teria ido à loja, meu amigo. e sozinha eu mastigo o luto.

o único sentimento do luto é o medo. medo de sentir qualquer outra coisa. apatia, piano e constância. um dia de cada vez. livros suaves. movimentos basais. sem perfume. não, eu não quero associar cheiro algum a esse momento. comidas sem graça. a mesma situação do perfume.

levanta e anda, disse o meu bom senso. todo o resto se ofendeu e o ignorou. hoje ele mesmo se questiona. estamos todos perdidos aqui dentro da sala de controle. faz frio.

basal e constante. um dia de cada vez.

lendo meu último post, me convenço a ser cada dia mais basal. mais e mais.

ouvindo: dna - ludovico einaudi