domingo, 29 de abril de 2012

patos feios

fui eu que escolhi tudo isso...

os patos feios da vida real são altamente adaptáveis. aprendem a conviver com os outros bichos, se interessam pelas diferenças alheias. acabam conhecendo a diversidade de coisas boas espalhadas por aí, há energia para o novo.

mas chega uma hora em que nós, patos, percebemos o quanto somos sugestionáveis. e quando isso acontece é estranho. tudo o que brilhava perde a graça, as cores mudam e olha que interessante: o mundo permanece igual, o que mudou foi a nossa percepção.

eu sou uma mera coleção de influências externas, de forma toscamente misturada, sem definição exata. quem sou eu, afinal? qual o lugar certo para mim?

mas convenhamos. como é utópico imaginar uma lagoa cheia de outros patos em uma situação que beira a perfeição, como no desenho da disney. é tolo fazer isso, ingênuo almejar este tipo de condição.

no fim das contas, desconfio que esse pato curte a nostalgia da solidão.

me sinto feia e cansada. feia devido à constante inadequação. cansada por fazer esforço para adequar-me. "continue procurando", é o que eles falam. se eu fosse otimista, pensaria "há um lugar bom para mim". como sou depressiva penso "não sou boa o suficiente para este lugar".

outra porta fechada novamente. e então, ficar sozinha é mais confortável. quem diria que o mesmo pato do começo do post ficou desse jeito.

descobri que não sei lidar com as pessoas. mesmo assim, prefiro quem sou hoje.

ouvindo: amsterdam - coldplay

quinta-feira, 12 de abril de 2012

buldogue

eu não sei exatamente quando foi que eu me apaixonei pela idéia mas... hoje fiquei o dia todo matutando como proceder com um filhote de buldogue.

será que ele ficaria quietinho na parte de trás do consultório enquanto eu trabalho? um buldogue vive bem em apartamento de 50m²? porque a minha idéia é morar em apartamento, não tenho $ pra comprar casa. como faço pra ensinar ele a andar de skate? aliás, como faço para não roubarem meu buldogue enquanto eu ando de skate? se eu morar no ipiranga posso deixar ele aqui com a maria e a kurica durante o dia. eu vou querer uma cama de casal, certamente, pra poder dormir com o buldogue no colo. que se dane se um dia eu arranjar um namorado, ele que se acostume com um cão no colo também.

quem diria, casamentos não me motivam a sair de casa, um cão, sim.

e a minha intuição diz que morar sozinha com um cão não é empecilho para limitar a minha vida social. eu já curto essa vida reclusa, ter um cão roncando enquanto leio um livro parece ser bem legal.

ouvindo: password - ludovico einaudi

domingo, 8 de abril de 2012

ele

"ele admirava que ela fizesse o que lhe convinha, embora, às vezes, parecesse apenas que ela fazia o que era capaz de fazer" (peter d. kramer)

não é só harry que projeta virtudes em mariana cegamente. eu também faço isso. mas que grande ilusão, algo que parece independência e autocontrole pode muito bem sinalizar fraqueza. ou, sendo mais direta, depressão.

o conhecimento muda a nossa percepção. e parece requisito mínimo para fazer algo bom, de fato.

eu me preocupo com ele, sim. ainda mais quando os sintomas, bom... ninguém mais enxerga. é estranho demais levar patadas e continuar gostando de alguém. isso vai contra as leis sociais dessa modernidade onde tudo (e todos) são descartáveis. mas eu gosto dele e pronto. gosto de querer bem, e não querer pra mim.

acho que não há mais nada que eu possa fazer. o que adianta entender todo o mecanismo fisiológico se não há nada que eu possa fazer? fico aqui esperando algum pequeno milagre.

ouvindo: ludovico einaudi

sexta-feira, 6 de abril de 2012

dinamismo

"como não tenho mais nada para me distrair, passo os dias e as noites inteiras pensando em todas as pessoas que conheço" (vincent)

seja ela uma prisão física ou mental, é realmente difícil encontrar formas de se distrair. assim como van gogh eu andei pensando em todas as pessoas que conheço. e tentando fazer um trabalho estatístico a respeito de... uhm.

me dou bem com as pessoas dinâmicas e com tudo o que é dinâmico. essa é a minha principal conclusão.

a minha própria estagnação me é incômoda. a irritação cresce como um tumor sabidamente maligno. passo a ler páginas e páginas de livros em alta velocidade, o que compensa o silêncio oral; o recolhimento social é preenchido pelo prazer da pesquisa. e então eu viro uma panela de pressão com curtos alívios ocasionais, até que eu cozinhe o que precisa ser cozido.

bom é saber que eu não perdi o dinamismo, apenas o transformei. e bom é saber que, para a minha própria sanidade, devo me afastar temporariamente de seres estagnados e interagir com os dinâmicos. gostar é uma coisa. fazer bem é outra.

todo esse movimento mental não é penoso, é gostoso. interagir com pessoas cujas trocas são ricas passa a ser gostoso também.

ouvindo: u2

quinta-feira, 5 de abril de 2012

procurando

lendo cartas de van gogh ao irmão, me dou conta de como tudo isso é efêmero.

se debater contra as idéias inconvencionais é inútil. acaba não sendo uma coisa ou outra: o costumeiro incomoda, o dissemelhante não incomoda o bastante. e não sobra nada além de ficar em cima do muro sem tempero nenhum até que a vida passe por completo.

"você não está sentindo aquela crise dos trinta?". oi? ah, eu deveria estar sentindo? uhm... agora sim, de repente estou sentindo... mas que bosta! é de se questionar o que eu deveria ou não estar sentindo. como isso.

os casais são totalmente enfadonhos. são lindos, mas enfadonhos. é estranho imaginar que ir ao cinema ou sair para jantar já foi uma coisa tão natural. atritos corriqueiros sobre banalidades são confortáveis. e eu não curto mais o confortável.

churrasco e cerveja deixam a vida menos densa, quanta ironia. a simplicidade da vida não muda. passam-se os anos, vêm a tecnologia, os avanços. o homem é o mesmo bicho de sempre, comida e sexo e então os ânimos ficam alimentados. o resto a gente vai levando. até que a vida passe por completo...

eu deveria sim estar procurando a minha felicidade, a minha paz.

não satisfeita com a velocidade do meu raciocínio (que não deveria ser assim tão lenta), dou um tapa na minha testa pensando que talvez eu não encontre nada aqui. estou procurando a coisa errada no lugar errado.

ouvindo: nuvole bianche - ludovico einaudi

domingo, 1 de abril de 2012

sintonia

a sintonia inata e a adquirida. cada uma tem sua peculiaridade e ambas me agradam.

com ela nunca é necessário falar muito pois ela lê meus pensamentos. principalmente o pensamento não verbal... aquele que se sente. o pensamento-sentimento, aquele que causa agonia não tanto pela dificuldade de se expressar: mas pela dificuldade de se fazer entender. e ela consegue. acontece assim, desde sempre. é inato.

com ele é diferente. posso falar sobre quase tudo porque... porque... ele manja de quase tudo. meu palpite é de que um enorme banco de dados supre muito bem o papel da intuição. apesar de que eu acho que ele tem isso também. uhm. uma boa pessoa com uma boa bagagem. e não tem como não se sentir à vontade com essa companhia. muita coisa em comum e muita coisa que ensinamos mutuamente.

e não adianta. eu tentei passar meu tempo com gente cujo santo não bate. pela amizade. e assim que suas nuvenzinhas pretas e carregadas começaram a impregnar o meu céu, eu me decidi. essa tempestade é sua. não minha. eu mereço andar com quem me faz bem, não acha?

ouvindo: amsterdam - coldplay