quarta-feira, 25 de março de 2015

culpa

eu pensava que a maior bênção que poderíamos ter era a saúde. órgãos funcionando normalmente, neurotransmissores ok, nenhuma dor, nenhum incômodo. eu estava errada, a maior bênção que podemos ter é a sensação de paz. antes eu confundia paz com comodismo, a imagem que eu tinha da paz era alguém sentado numa poltrona a maior parte do tempo (influência do rappa, será?).

o álcool é uma droga lícita, socialmente aceita, aparentemente inofensiva e o limiar do normal-problema é muito vago. o álcool faz mais estrago que a cocaína, porque nessa de fazer estrago silenciosamente, acaba com muita gente. funciona mais ou menos assim com a culpa. culturalmente, consideramos a culpa algo saudável e honrável, não sabemos direito os limites entre normal-problema, então vamos seguindo assim.

a culpa não mata, mas leva ao suicídio. a culpa não engorda, mas te faz comer loucamente. a culpa não briga com as pessoas próximas, mas te faz brigar. a culpa ri silenciosamente e vai ensinando os cidadãos a morrerem de dentro pra fora, gerando uma legião de zumbis apáticos que "mordem" filhos, amigos, colegas de trabalho e todos os que convivem com eles.

a culpa não cega, mas faz você sentir dificuldades para enxergar direito. se isso acontece desde que você é pequenininho, a imagem que forma do mundo é míope, essa imagem gruda na sua cabeça e essa passa a ser a sua verdade. poderia ser bem melhor, mas sabe como é, a plasticidade se limita com a idade. é embaçado.

há desespero na culpa. e há atitudes extremas no desespero. o caos nem sempre é produtivo (conclusão recente também). eu tenho vontade de chamar a culpa em um canto e conversar, entender, ouvir. eu quero encontrar a paz para a culpa também.

ouvindo: dietro casa - ludovico einaudi

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