segunda-feira, 30 de março de 2015

quanto

quanto mais eu corro, mais estou atrasada. quanto mais eu me estendo, menos tempo tenho. quanto mais eu me preocupo, mais me canso. quanto mais eu me canso, mais eu como. quanto mais eu engordo, mais me canso. quanto mais eu me canso, mais me preocupo. quanto mais eu me canso, mais eu me canso. quanto mais eu trabalho, mais eu trabalho. quanto mais eu me responsabilizo, mais eu me canso. quanto mais eu me canso, mais os outros se cansam. quanto mais os outros se cansam, mais eu trabalho.

quanto mais eu me fodo, mais eu me fodo.

ouvindo: ventilador

quarta-feira, 25 de março de 2015

culpa

eu pensava que a maior bênção que poderíamos ter era a saúde. órgãos funcionando normalmente, neurotransmissores ok, nenhuma dor, nenhum incômodo. eu estava errada, a maior bênção que podemos ter é a sensação de paz. antes eu confundia paz com comodismo, a imagem que eu tinha da paz era alguém sentado numa poltrona a maior parte do tempo (influência do rappa, será?).

o álcool é uma droga lícita, socialmente aceita, aparentemente inofensiva e o limiar do normal-problema é muito vago. o álcool faz mais estrago que a cocaína, porque nessa de fazer estrago silenciosamente, acaba com muita gente. funciona mais ou menos assim com a culpa. culturalmente, consideramos a culpa algo saudável e honrável, não sabemos direito os limites entre normal-problema, então vamos seguindo assim.

a culpa não mata, mas leva ao suicídio. a culpa não engorda, mas te faz comer loucamente. a culpa não briga com as pessoas próximas, mas te faz brigar. a culpa ri silenciosamente e vai ensinando os cidadãos a morrerem de dentro pra fora, gerando uma legião de zumbis apáticos que "mordem" filhos, amigos, colegas de trabalho e todos os que convivem com eles.

a culpa não cega, mas faz você sentir dificuldades para enxergar direito. se isso acontece desde que você é pequenininho, a imagem que forma do mundo é míope, essa imagem gruda na sua cabeça e essa passa a ser a sua verdade. poderia ser bem melhor, mas sabe como é, a plasticidade se limita com a idade. é embaçado.

há desespero na culpa. e há atitudes extremas no desespero. o caos nem sempre é produtivo (conclusão recente também). eu tenho vontade de chamar a culpa em um canto e conversar, entender, ouvir. eu quero encontrar a paz para a culpa também.

ouvindo: dietro casa - ludovico einaudi

terça-feira, 17 de março de 2015

cruel

eu conheço uma pessoa muito ruim e muito cruel, alguém que eu preciso tomar muito cuidado. e essa pessoa sou eu.

ouvindo: coldplay

quarta-feira, 4 de março de 2015

tolerância

a vida vai continuar me dando oportunidades para desenvolver tolerância? quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece. quanto mais eu me planejo, quanto mais eu calculo, mais gente aparece fazendo a pior das piores escolhas, as escolhas mais improváveis, as escolhas mais burras.

estou fadada a ter filhos com todos os tipos de problemas possíveis. o mundo vai me dar uma doença para me matar bem devagarinho, alguma doença que me imobilize, que me tire o movimento, a fala, tudo. aí eu vou aprender sobre tolerância. na marra.

o mundo vai me dar alguém para dividir a vida. e vai tirar essa pessoa de mim, através das minhas próprias reações coléricas, minha inquietude, meu incômodo. e então eu vou sentir a culpa bater. vou ajudar a culpa a me bater e vou me bater até começar a rir. ahaha! é sangue! sangue é vida! e mais raiva, mais porrada, mais raiva, mais risada.

eu sou uma panela de pressão. e nem sei fazer carne de panela.

eu rio mesmo, pra dentro, principalmente.

tem gente que chora, chora pra tudo. eu rio. de raiva.

ouvindo: big girls cry - sia (irônico?)