domingo, 12 de maio de 2013

assumir

perder o namorado era motivo para desespero no passado. eu espero que isso permaneça no passado, porque ando muito afim de me desesperar por motivos mais fortes. muito mais fortes.

quero preocupar-me com passos largos, contas a pagar... contas grandes e gordas. o preço alto e adrenalinoso da independência e da fase adulta. quero pagar a luz e a água que consumo, cada metro quadrado do chão que eu piso, quero cozinhar o que como e ter o apartamento todo impregnado com o meu cheiro. quero me preocupar com a produção de um livro. com a árdua publicação de um livro. quero essa capacidade de criar, condensar em papel e provocar a sensação nos outros de que valeu a pena ter lido. que incomodou em algum lugar.

ah sim. e um namoro deve agregar coisas boas e trazer novidades. ok, eu permito isso na minha vida atualmente. não tenho mais uns medos bobos de antes. vamos lá, vamos assumir e entrar de cabeça numa proximidade com alguém que vale a pena. vamos baixar a guarda e nos deixar vulnerabilizar por alguém que mexe com a gente. vamos nos permitir. o prazer dessa companhia dissolve o temor do compromisso e pra falar bem a verdade: faz tempo que não me sentia contente.

e eu disse para a minha mãe "pô, será que foi a caipirinha que me deixou alegre assim de repente?". e ela "não, você está assim desde ontem. é ele que deixa você assim". quem ele o que. que? mas eu nem disse nada de mais e... tá. tá bom vai. sábia mamãe.

ouvindo: madri - fernando & sorocaba

terça-feira, 7 de maio de 2013

dois mundos

sabe, eu não tenho mais vinte anos. estou beirando os trinta. acho que já sei alguma coisa da vida.

nos últimos dois anos estive aprendendo coisas importantes. tenho a impressão de que a coisa mais importante que aprendi foi o seguinte.

nunca, em hipótese alguma, dependa de outra pessoa para se realizar.

isso significa que você acaba fazendo planos para... comprar um apê sozinha, ter um filho sozinha (claro que, com o cuidado de escolher bons genes), ter um cão sozinha, trabalhar para sustentar-se sozinha, desenvolver paixões solitárias, dar um jeito de passar a maior parte do tempo sozinha.

e também significa que você acaba boicotando todas as chances de ter um relacionamento, acaba abominando casamentos (eles são temporários, sei bem), acaba afrouxando os laços de amizade, criticando as pessoas que sonham em encontrar amor, acaba perdendo a sensibilidade e acaba não conseguindo exercer a maior paixão solitária que é escrever. a maior paixão de todas. gostaria tanto de escrever bem. intensamente.

porque ser realista é um troço tão maçante que vai podando todos os galhos das emoções intensas. eu não quero mais vivenciar emoções intensas, tem razão. mas eu queria escrevê-las. e definitivamente não estou conseguindo. o que era para ser bom está virando um monte de relatórios estatísticos cuidadosos e pessimistas. uma grande porcaria.

estou beirando os trinta. não tenho mais vinte. não me atrevo a apaixonar-me por pessoas nem que me paguem todo o dinheiro do mundo. quero pisar em lugar seguro no meu mundo real e mergulhar em excentricidade, extremos e situações impróprias (bastante impróprias) no meu mundo literário. quero escrever sobre tudo o que não é possível, tudo o que não é correto, tudo o que é abominável mas que combina tão bem com o texto denso.

quem sabe eu ainda consigo obter esses dois mundos.

ouvindo: corbeau - coeur de pirate

domingo, 5 de maio de 2013

fio

se eu me concentrar bastante consigo ir para o outro mundo. para o outro cômodo. às vezes eu gostaria que fosse sempre noite. fresco, silencioso e escuro. certo, com a artificialidade das luzes fluorescentes e milimetricamente espaçadas... que se vê ao longe na avenida... da janela.

hoje fui ver um apê, o rapaz tinha um perfume sofisticado cujo vidro era comprido, achatado verticalmente e clean. vidro fosco e tampa prateada. se eu pedisse para cheirar ia ficar muito estranho, certamente. só olhei e isso foi suficiente. não tinha clima para ficar lembrando de cheiros.

e cá estou, sentada, esquentando as mãos no calor do note. fazendo o que mais gosto nessa vida. viajando no outro mundo e fluindo em letras. estar assim me lembra dele, é como um fio de ariadne que ainda nos une, confortavelmente. um filamento tão fino que só eu enxergo. mas forte como aço. um fio que se estende por alguns poucos quilômetros. e assim eu curto uma solitude em sossego.

domingo à noite. pensando bem, nostalgicamente perfeito.

ouvindo: the phanton's lair - the phantom of the opera