domingo, 29 de janeiro de 2012

emotivo facebook

"sem o amor-próprio nenhuma vida é possível, nem sequer a mais leve decisão, só desespero e rigidez" (hugo hofmannsthal)

é de praxe passar o tempo lustrando armaduras contra o sofrimento. é apavorante correr o risco de amar sem ser correspondido. estamos feridos com tão pouco, acusando a negligência alheia... desconhecendo os motivos alheios. incompreendemos idiossincrasias, travamos batalhas, criamos e questionamos ofensas, oferecemos nossa própria felicidade aos cuidados... dos outros.

"sou uma coleção de sentimentos. meus sentimentos são delicados machucados. se vier, venha para cuidar de mim. e traga ataduras"

que tal excluir todas aquelas frases feitas do emotivo facebook e deixar apenas esta, que resume tudo? vamos fazer com que os outros sejam responsáveis pelo tratamento de nossas feridas, vamos abrir mão do nosso dever de tomar conta de nós mesmos.

estamos nos queixando tanto de pessoas e seus comportamentos inadequados em relação à nós, no entanto não conseguimos passar um dia sequer em nossa própria companhia. o ser humano mais difícil de enxergar e criticar sou eu mesmo. ora, melhor não criar a oportunidade de se dar conta disso, não é mesmo?

ouvindo: little lion man - mumford and sons

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

transição

toda mudança é incômoda. abrir mão do conhecido e encarar o desconhecido é desgastante. ampliar a zona de conforto é desconfortável. desbravar dá cagaço.

então nos recolhemos numa concha. revemos os movimentos automáticos, retomamos o modo manual e ficamos que nem barata tonta com as novas informações. neste momento resolvemos passar bastante tempo sozinhos para acostumarmos com os novos conceitos... antes de interagir novamente.

todos deveriam degustar uma fase de transição. é rico e necessário. chega de negar, relutar, nadar contra a corrente, debater-se. tudo isso só serve para ficarmos estagnados naquela mesma situação. por quanto tempo mais?

ouvindo: o velho e o moço - los hermanos

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

gabriel

século xvii. ela passou dois anos trocando palavras apenas com gabriel washbrook. ou melhor, tratando-se de gabriel, foram meias palavras todo esse tempo.

foi hannah powers quem decidiu abolir o 'nós'. ainda assim ela permaneceu todo um inverno esperando que ele voltasse. nem sinal dele ou dos cães.

ela deixou para trás a casa vazia, virou médica itinerante, casou-se com simon ward, o dono da botica. fizeram remédio para uma porrada de gente doente. ela chegou a conhecer a velhice, ele não.

e mesmo velha, ela lembrava de gabriel com amor. ele também lembrava de hannah. os cabelos dele continuavam longos. seus cães já não eram os mesmos daquela época mas ainda eram muitos. ele passou a viver na floresta, aquele mato fechado. e desacostumou a falar.

é de se entender porque sou apaixonada por livros.

ouvindo: bohemian rhapsody - maksim mvrica

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

silêncio

que caos. ao menos sou uma pessoa curiosa e pesquisadora, informada e ciente da minha bosta de situação.

nem rosamunde pilcher seria capaz de me descrever tão detalhadamente quanto robin norwood. não há orgulho nenhum nisso: arranjar um emprego que lide com pessoas 'carentes e cheias de dor', preferir homens complicados e cheios de problemas, ter paciência extra com situações 'abomináveis', ser exageradamente prestativa e também controladora, ter vícios comestíveis. medo de decepcionar. entre outras coisas.

feito o diagnóstico, de repente sinto a necessidade de nascer de novo...

bem, foda-se. qualquer pessoa de vinte e oito anos tem grande capacidade de nascer de novo na mesma vida, se quiser.

as pessoas do meu convívio já começaram a notar: já não sou tão bunda mole como antes. a minha prestatividade não é mais gratuita, pacientes não recebem afagos verbais, tios deixarão de me ter como sobrinha preferida, alguns muitos amigos irão fazer boneco de vudu da minha pessoa. os homens sumiram, pararam de me encher e eu parei de perturbá-los.

e isso me deixa tão aliviada. apesar de ser apenas o começo.

o silêncio é encantador pois eu me torno minha melhor amiga. se eu achava que 2011 foi um ano solitário, é porque eu não conhecia 2012. e assim, o desenho vai criando formato.

ouvindo: tema de jurassic park - john williams

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

querido john

como ele sabia que eu parecia com a savannah do 'querido john'? ele só me viu três vezes. savannah também nasceu terapeuta. é doce, prestativa e chorona. não sei como dá pra saber que eu sou assim me vendo três vezes. vai ver que toda mulher é assim. ou vai ver que foi intuição, conforme ele mesmo disse.

de repente, eu não me sinto triste por ser assim.

que se danem as definições. que se dane se eu sou meio codependente. ou que me apaixonei por um cara meio asperger. que se dane que ele seja meio asperger, aliás. apesar da minha confusão em interpretar fatos, sei que ele é interessante exatamente desse jeito.

nenhuma companhia humana seria capaz de preencher este vazio. 'querido john' está sendo um amigo tolerante, sábio e gentil. bom livro.

não quero vazio. não quero humanos. comprei mais três livros hoje. pra não correr o risco.

ouvindo: a love that will never grow old - emmylou harris (do brokeback mountain)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

codependente

tudo o que eu leio parece me dizer: você é codependente.

"os codependentes sentem compaixão pelas pessoas que estão sofrendo e sentem que eles devem ser os únicos que podem ajudar. pessoas codependentes dão do seu tempo, emoções, finanças e outros recursos, e têm grande dificuldade de dizer 'não' a qualquer pedido".

eu cuido de todos. da avó, mãe, pacientes, tios, irmã, namorados, amigos. eu sou terapeuta. eu nasci terapeuta. bosta. é isso quem eu sou e é isso o que faço melhor. servir. e eu só sei fazer isso.

"a única maneira de fazer um trabalho extraordinário é amar aquilo que faz. se ainda não o encontrou, continue a procurar. não acomode-se. tal como com os assuntos do coração, você saberá quando o encontrar" (steve jobs)

hoje eu não sei mais o que é amor saudável. eu fico triste, steve, em saber que o meu trabalho mais extraordinário, na verdade, é algo bem patológico. em termos de virtude, pior do que a maldade é a fraqueza.

como é possível gostar de alguém assim? eu ainda preciso melhorar muito. me deixe sozinha com meus livros. estou triste.

ouvindo: lovers in japan - coldplay

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

bestão

eu não sei o que se passa na cabeça dele. talvez eu nunca mais saiba.

meio ano. longas conversas. e tudo acaba sem explicações. eu sinto meu olho ficar roxo e as costelas quebrando. vários chutes na barriga. gosto de sangue. vontade de vomitar. eu não estou exagerando, eu sinto como se estivesse apanhando.

ele era meu amigo. não era? eu podia falar de quase tudo com ele. não?

é, acho que não.

eu realmente gostava dele. gosto dele. postei que estava na hora de deixar de gostar, talvez ele tenha lido. e concordado.

se você visse a minha expressão agora, poderia reparar que não estou chorando nem estou desesperada. eu sempre fiz o meu melhor, mostrei quem eu sou e não mudaria nada do que foi dito ou feito. ainda assim, dói muito. mas eu estou de pé.

vai demorar pra eu esquecer desse bestão. mentira. eu não vou esquecer. desculpe se não consegui fazer você feliz. era essa a intenção sim.

ouvindo: chasing cars - snow patrol

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

richard

é muito estranho a imagem que nós fazemos das pessoas. ele lembra richard sim, o richard jovem. mas jovem ele não é.

adoro o fato de ele não ser jovem... não curto saber que nunca haverá leslie para ele. na verdade odeio o fato de eu não ser tal leslie. enfim, pouco importa agora.

bom saber que ele lembra de mim às vezes. eu não imagino a imagem que ele faz de mim. suponho, erroneamente. na minha tola imaturidade. vou ficar sem saber desta vez.

mas moças de vinte e sete anos não são todas iguais. não?

ouço ludovico. leio dear john. ouço u2. ponho um halls na boca. leio ponte para o sempre de novo. e assim ele não fica tão longe.

ouvindo: fairytale - ludovico einaudi